Literatura Brasileira as vezes é boa -S

 Bom amores! essa semana tive o prazer de fazer um trabalho de literatura e achei em livro de contos, um conto bem legal pra vocês! Que tem muito haver com a EGEC.
Além disso queria anunciar que agora estou divulgando as minhas fics tudo de um modo novo, usando o blog Guillen Guard, pra quem quer dar dicas, opiniões e conferir novidades de todas as fics, alem de ter muito mais coisas mais pessoais do Dai aqui ^^".
Siga : @guillen_guard e o blog http://guillenguard.blogspot.com/
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Aproveitem esse conto fantástico que pode se encontrado no livro Contos de amor novo da Atual editora.






Nunca mais.
Edson Gabriel Garcia

A cassa de numero oitenta da minha rua ficou muito tempo fechada. Ouvi dezenas de comentários, vindos das pessoas mais diferentes, propondo hipóteses que justificassem a causa do abandono e do sumiço das pessoas. As opiniões iam desde doenças até falência, passando certamente por incontáveis tragédias familiares.
 O tempo se encarregou de apagar da lembrança de todos nós a preocupação com a casa de numero oitenta e acabou, também, com as discussões disso e daquilo sobre a causa verdadeira.
 Essas coisas andavam bem longe da minha lembrança juvenil, vagas recordações de crianças brincando comigo, quando a casa foi tirada do silencio e aberta para alguns pedreiros e pintores. Depressa a noticia correu a rua toda e a novidade acalmou nossos corações curiosos: a família Leme estaria de volta, nas férias de julho, reabitando a velha e descuidada casa de numero oitenta. Com eles vieram de volta algumas lembranças das minhas brincadeiras de rua com as três crianças, agora já grandes, com quem tinha repartido segredos, brigas, historias e prazeres.
 Ali estava o Samuca, irmão da Raquel e da Vanessa, meu amigo preferido da infância distante. Bastante crescido, alias como eu. Pequenos mocinhos, como costumava dizer meu pai.
 O nosso reencontro foi casual, no meio da rua, ele vindo com pães e leite nas mãos e eu inda a padaria em busca dos mesmos produtos matinais. Apenas um “oi” delicada e pouco à vontade saudou nosso reencontro. Eu vi um menino de rosto muito bonito, de jeito calmo, fala mansa e andar estudado escondendo o traquinas de antes.Mas como tudo muda, eu também, certamente o Samuca de agora era outro. Nos encontramos outras vezes e, aos poucos, fomos nos aproximando um do outro, seja para poucas conversas, seja para um sorvete na sorveteria Madrugão, seja para ouvir a conversa das meninas, maiores e mais espertas do que nós.
 O Samuca era, ou estava, outro. Não era mais o mesmo peralta de antes. De comum apenas continuou o prazer que tínhamos em estar um com o outro. Claro, eu tinha outros amigos e, engraçado, com eles a conversa era outra. Com esses eu falava do meu interesse por meninas, das conquistas e progressos sexuais que eu fazia, assuntos nunca abordados com Samuca. Mas com a o Samuca, mesmo num silencio enorme que as vezes nos acompanhava, eu adorava aquela companhia pouco falante.Quantas e tantas vezes andamos pelas ruas da cidade, vendo isso e aquilo, rindo disso e daquilo, ou apenas saboreando a companhia um do outro. O Samuca sabia, como ninguém, mas mesmo silente, preencher um grande espaço dentro de mim. E eu gostava. Só não achava graça quando um dos amigos da turma da cidade, o Paulão, o Rê, o Netinho, fazia gozações acerca da nossa amizade ou insinuava ser o Samuca um “maricas”.
 Um dia senti cheiro e gosto de fim de férias. O próprio Samuca me comunicou, olhando para um lugar qualquer que eu não conseguia ver, que iriam embora no dia seguinte. Mas antes que qualquer tristeza rondasse sobre nós, avisou que deixaria o endereço para trocarmos cartas e que, com certeza, nas próximas férias estaria de volta. Fiquei com o pedaço de papel pardo onde estava anotado o endereço dele e um gosto de gramática mal explicada na boca.
 Enfim...
 Os dias sucederam-se, a vida voltou ao antes e eu esqueci momentaneamente o Samuca. Perdi o endereço e o interesse por uma carta que não criou coragem para sair. Ele também não me escreveu e a turma de amigos da cidade acabou preenchendo o espaço antes ocupado por ele.
 Vieram outras férias. Raquel e Vanessa chegaram. O Samuca não veio. Não perguntei e ninguém falou nada. Parecia estranho, mas tive a impressão de que as pessoas da família queriam ignorar ou  esquecer o Samuca.
Outras férias vieram e outras vezes Samuca foi esquecido. De informação consegui apenas uma nota de rodapé: ele estava doente e não tinha podido vir. E acabou por ai.
 Quase acabou por aí.
 Estávamos preparando a festa de final de ano, formatura da oitava serie do primeiro grau, quando o pessoal da casa de numero oitenta chegou para nova temporada. Vanessa e Raquel, quase mulheres. O casal Leme, acumulando rugas e cabelos brancos. E veio mais alguém. Alguém que despertou em mim uma espécie de amor adormecido, um amor ainda desconhecido, mas real e profundo.
 O mesmo “oi” de antes e reatamos a companhia um do outro. Não era o Samuca. Não, era o Samuca sim. Não era o Samuca da infância, nem o Samuca do primeiro reencontro. Era um outro Samuca. O rosto redondo extremamente delicado e bonito não tinha nenhuma penugem; os olhos mansos e os cabelos graciosamente compridos eram de moça. O corpo, menos desenvolvido que o meu, estava escondido em roupas largas. A voz quase nunca saia. Quando vinha, desafinava entre grave e o suave, ambos abrigando para sobrepor-se um ao outro. Continuamos juntos, estranhamente juntos. Eu sabia que o Samuca tinha por mim alguma coisa muito próxima do amor e eu também por ele um sentimento tão forte quanto desconhecido. E sabia que a cidade nos olhava com os olhos maldosos e curioso. Tive certeza disso quando uma das meninas da minha classe me perguntou debochadamente “você não vai trazer sua namorada para a festa?”. E isso nem era tão importante pra mim.
 Faltava um dia para festa quando resolvi convidá-lo. Falei com ele, num banco da praça, onde costumávamos conversar. Samuca pegou minha mão esquerda, meio desajeitadamente, fez uma leve pressão com seus dedos, aproximou-se do meu rosto e senti sua respiração pausada e quente. Íamos nos beijar, se ele não recuasse a mão e o rosto e decretasse:
 - Acho que não podemos.
 Não encontrei argumentos, nem a favor nem contra a decisão dele. Não os tinha, não os conhecia. Sabia apenas do que sentia por ele.
 Samuca ficou calado, assim foi para sua casa e de lá não saiu mais até o fim de janeiro.
 Nunca mais o vi.
 Até hoje, três anos depois, não assimilei o golpe. Não tenho namorada. Nenhuma garota fez renascer aquela emoção desconhecida, mas grande e real, que senti por Samuca.

2 Opiniões:

Kiki disse...

De fato, é um conto muito bom e bem dentro do contexto do blog. Achei legal teres postado. =]

Leticia Felício disse...

Ameei o conto. é perfeito. Valeeu Dai-Chan por ter postado *---*

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